terça-feira, 29 de março de 2011

PRIMEIRA ENTREVISTADA DO BLOG: DRA SUSETE LOBO S. DE ALMEIDA



1. Conte sobre sua trajetória como Sanitarista em alimentos: Iniciei em 1988 na Secretaria Municipal da Saúde do município de Guaporé, ingressando através de concurso público, onde exerci a função de Fiscal Sanitária, basicamente na área de fiscalização no comércio de alimentos. No início de 2001, também através de concurso, ingressei na Secretaria Estadual da Saúde, 11ª Coordenadoria Regional da Saúde em Erechim , onde atuei na Vigilância de Alimentos até o final de 2002, quando solicitei transferência para Porto Alegre , na Divisão de Vigilância Sanitária, Setor de Alimentos, onde atuo até os dias de hoje. Em 2009 concluí minha formação de Sanitarista realizada através da Escola de Saúde Publica/RS -FIOCRUZ/RJ.
2. Qual a principal função da Divisão de Alimentos da Vigilância Sanitária Estadual ? O Setor de Alimentos pertence ao Núcleo de Vigilância de Produtos, da Divisão de Vigilância Sanitária. O Setor coordena em nível Estadual as ações e Programas na área de alimentos para Coordenadorias Regionais de Saúde e seus municípios, dentro do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária. A Divisão de Vigilância Sanitária/DVS é parte integrante do Centro Estadual de Vigilância em Saúde/CEVS onde também integram-se a Divisão de Vigilância Epidemiológica/ DVE, Vigilância Ambiental /VA e Vigilância da Saúde do Trabalhador/ VST.
3. Quais as principais barreiras encontradas pelos profissionais de alimentos no combate as Doenças Transmitidas por Alimentos (DTAs)? Os profissionais de VISA municipais, dentro do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária é quem tem a competência de realizar licenciamento e fiscalização nos estabelecimentos de serviços de alimentação tais como restaurantes , lancherias, cozinhas industriais e outros, fazendo cumprir as regulamentações de Boas Práticas de Manipulação existentes, como a RDC -ANVISA n° 216/2004 e a Portaria Estadual nº 78/2009. Entretanto muitas vêzes estes profissionais enfrentam dificuldades na atuação, seja por questões de equipe não estruturada, rotatividade de profissionais que nem sempre são concursados e com isso falta de capacitação continuada e até por questões políticas, o que neste caso considero ser barreira que dificulta o trabalho . A fiscalização e inspeção nas indústrias de alimentos com exceção dos produtos de origem animal, sucos, refrigerantes e bebidas alcooólicas são de competência dos profissionais da VISA Estadual. A investigação de um surto de DTA exige a participação das Vigilâncias Epidemiológicas e Sanitária, seja em nível municipal, regional ou central e também frequentemente exige a participação de outros órgãos como agricultura, e meio ambiente . A conclusão de um surto exige a participaçãode todos envolvidos o que nem sempre é possível .
4. Qual tem sido a principal recomendação da secretaria aos profissionais da Vigilância lotados nos diversos municípios do estado? Que façam capacitações e atualizações na área , que trabalhem nos seus municípios de forma interinstitucional, com áreas da educação, agricultura, ambientais, EMATER, entre outros e que estejam integrados com suas Coordenadorias Regionais de Saúde de forma permanente , onde ali encontram o apoio técnico para suas ações.
5. Qual o papel da sociedade no combate as DTAs? A sociedade deve ser informada e educada no aspecto do risco para entender e com isso previnir as DTAs. As questões culturais são muito fortes. Frases como “sempre fiz isso e nunca aconteceu nada” são comuns de serem ouvidas. Os órgãos de saúde devem interagir com a sociedade.
6. Como é a situação de abates clandestinos e comercialização informal de produtos no estado? Isto ocorre com freqüência? Qual a atuação da Vigilância Sanitária sobre essa situação? A situação de abates clandestinos e do comércio informal é um dos maiores problemas que as vigilâncias municipais tem enfrentado. As vigilâncias sanitárias tem a competência de fiscalizar o comércio, atuando e realizando aprensões através de Processos Administrativos Sanitários. Cabe às VISAs também o papel de orientar ao consumidor para os riscos e a prevenção de doenças causadas pelo consumo desses alimentos . É fato as promoções das Secretarias Municipais de Agricultura, juntamente com a EMATER, de promover as chamadas feiras do produtor rural, feiras ecológicas, feiras-livres... onde frequentemente ocorre o comércio de embutidos, queijos e outros produtos de origem animal sem nenhum tipo de inspeção. E isso tem muita procura pelo consumidor.Entendo que combate ao abate clandestino não deve ser tratado como uma ação individual das Vigilâncias Sanitárias. Esse problema requer integração com os órgãos de agricultura através do incentivo à organização de um SIM efetivo, e também dos órgãos da fazenda, de segurança pública e até do ministério público para apoio ao combate, visto tratar-se de crime à Saúde Pública.
7. Recentemente foi veiculada pela mídia uma grande reportagem sobre a situação de um “Mercado Público” no país, qual a sua visão sobre esse tipo de mercado? Qual deve ser a atuação da vigilância sanitária diante de falhas nos procedimentos de manipulação de alimentos? O comércio de alimentos nos Mercados Públicos tem sido alvo frequentemente de ações por parte das VISAs, pois há muito comércio informal ou em más condições higiênico-sanitárias. O comércio de alimentos em mercados é antigo, muitas vêzes de mais de 100 anos e segue a história cultural do local. A vigilância sanitária em seu papel integrante do SUS com vistas ao risco e à prevenção é recente e traz consigo a imagem policialesca dos tempos antigos. Isso muitas vezes gera conflitos , pois a população ainda não está bem esclarecida quanto à questão de inocuidade dos alimentos. Vejo mais uma vez a necessidade de um trabalho integrado , interinstitucional ao lado de um consumidor informado e mudando a realidade dos Mercados Públicos, sem perder a sua finalidade.
8. Como a sociedade pode interagir junto a Vigilância para denunciar falhas no sistema? As Secretarias Municipais de Saúde são os órgãos que recebem e investigam as denúncias de sua população, e também as notificões referentes a surtos de DTA ou eventos de enfermidades relacionados ao consumo de alimentos e água . A nível Estadual, pode ser utilizado o número 150 - Disque Vigilância do CEVS - que recebe qualquer denúncia relacionada a Vigilância em Saúde e encaminha para os órgãos competentes para resolução.
9. Quais as principais ocorrências de DTA registradas pelo CEVS? A Vigilância Epidemiológica das Doenças Transmitidad por Alimentos/VEDTA , aponta como sendo nas residências os locias onde ocorrem o maior número de surtos, seguido de comércio de alimentos (restaurantes, lancherias) e ultimamente com aumento de ocorrência nos locais servidos por cozinhas industriais (em refeitórios de empresas e outros locais de público fechado). Observa-se que o número de pesssoas expostas em residências é menor que nos locais onde atuam cozinhas industriais. No RS também temos muitas ocorrências em festas comunitárias, casamentos, aniversários e outros, com número grande de participantes expostos.
10. Quais as principais causas das DTAs? Em primeiro lugar encontramos o uso de matéria prima sem inspeção sanitária (em geral produtos de origem animal), seguido de manutenção do alimento em temperatura ambiente por tempo maior de duas horas. Também temos como fator desencadeante a questão do manipulador infectado, sem cuidados higiênicos adequados, resultando assim em manipulação inadequada do alimento. Em relação aos produtos de origem animal , o hábito de consumir maionese feita com ovos crús tem desencadeado número importante de surtos por salmonelas. As contaminações cruzadas de produtos cozidos, prontos para o consumo, com alimentos crús contaminados tambem tem sido fator importante de desencadeamento de DTAs
11. Qual a melhor forma de prevenir uma DTA? Aplicar as chamadas 5 chaves da OMS para a inocuidade do alimento:
1.Utilizar sempre água potável e matérias primas seguras
2.Separar alimentos crús e cozidos. ( evitar contaminação cruzada)
3.Cozinhar completamente os alimentos .(acima de 70° C no interior do alimento)
4.Manter os alimentos em temperaturas seguras. (frios abaixo de 5°C e quentes acima de 60°C )
5.Mantenha a limpeza (mãos, superfícies, equipamentos, proteger o alimento de moscas e pragas domésticas)

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